Vegetusiano, vegetariano ou vegano? Qual a diferença? Se perguntarmos
a qualquer pessoa na rua o que lembra a palavra “vegetariano”, a
maioria vai responder que essa palavra designa uma pessoa que não come
nada de animais. Se perguntarmos o que quer dizer “vegano”, poucas são
as pessoas que conhecem o termo. E raras são as que conhecem a distorção
deliberada que os “vegetarianos tradicionais” fizeram do conceito por
detrás do termo. Ouvimos dos “vegetarianos” que ingerem laticínios,
ovos, mel e qualquer derivado de secreções glandulares de fêmeas de
outras espécies, que a palavra deriva do latim, vegetus, cujo
significado é vigoroso.
Se fosse verdade que a palavra inglesa vegetarian derivasse do latim,
conforme querem os “ovo-lacto-api- vegetarianos” conservadores, a
palavra não poderia ter sido escrita desse modo, deveria ser:
vegetusian. Em português deveria ser, então, vegetusiano. Leite e ovos
não dão em árvores, nem são extraídos do solo. São extraídos do corpo de
fêmeas de outras espécies.
Se os vegetarianos conservadores de fato estivessem a nomear sua
escolha com base no conceito latino, derivado da palavra vegetus,
deveriam dizer-se vegetusianos, deixando a palavra vegetariano, que foi
sequestrada por eles para designar falsamente sua dieta, repleta de
produtos de origem animal. Que pena! Poderíamos agora ter mais
transparência ética na designação do tipo de dieta adotada pelos
ovo-lacto-api- vegetarianos.
Os que não adotam uma dieta pensando apenas em se tornar vigorosos, e
sim em erradicar de seu prato qualquer comida que resulte da exploração
de animais, teriam então o termo correto para se autodesignar:
vegetarianos, isto é, os que comem exclusivamente alimentos de origem
vegetal.
Quando os vegetusianos usam a palavra vegetariano para designar seu
“estilo” alimentar, cometem um erro. Fazem passar sua escolha pelo que
de fato ela não é. Vegetarianos deveriam ser somente os que se alimentam
exclusivamente de produtos de origem vegetal. Vegetusianos deveriam ser
aqueles que adotam uma dieta com o intuito de se tornarem fortes,
vigorosos. Para os vegetusianos a questão do sofrimento e morte dos
animais é menos relevante. A maioria deles até topa participar de
debates em defesa dos animais, mas seu propósito é divulgar o
vegetusianismo, ainda que usando a palavra vegetarianismo. Isso confunde
as pessoas.
O fundador da primeira sociedade britânica vegana, Donald Watson,
denunciou em 1944 o engodo dos vegetarianos que passavam ao público a
ideia de que a palavra vegetarian derivaria do latim vegetus. Segundo
Watson, os “vegetarianos” assim procedem porque não conseguem explicar
para as pessoas o uso do termo vegetariano para designar sua dieta,
quando ela contém ovo, leite, mel e derivados destes.
Para não ter de explicar que eram vegetarianos só numa parte do
conteúdo de seu prato, os conservadores inventaram essa história de que o
termo vegetariano deriva do latim vegetus. Cometem um erro grosseiro,
pois basta olhar o termo vegetus para ver que dali não dá para derivar
vegetariano e sim vegetusiano. Uma acrobacia tem de ser feita com as
letras, para escrever vegetariano como se derivasse de vegetus. Essa
acrobacia devemos aos conservadores ovo-lacto-api- vegetusianos.
Uma lástima. Por sorte, após anos de insatisfação por ter de explicar
para as pessoas que era vegetariano estrito, autêntico, que só comia
coisas do reino vegetal, que não ingeria laticínios, nem ovos, nem mel,
Donald Watson, juntamente com Elsie Shrigley e outros cinco vegetarianos
estritos, fundaram a primeira sociedade vegana na Inglaterra [cf.
Joanne Stepaniak, The Vegan Sourcebook]. Desde então temos esses dois
termos, vegetariano e vegano, para distinguir quem come coisas de origem
animal e quem não as come.
Para além da alimentação, veganos têm uma díaita, do grego, “modo de
vida”, que escolhe a abstenção de todo e qualquer produto de origem
animal, não apenas na hora de comer, mas também na hora da higiene
pessoal, da limpeza da casa, dos acessórios de moda, dos cosméticos, dos
medicamentos. Obviamente, viver um projeto de vida vegana em meio à
ditadura da propriedade, exploração e extermínio de animais não é algo
que possa ser concretizado de forma pura. Por isso, para ser vegano é
preciso, além da honestidade com o uso do termo quando explica a outras
pessoas o que a distingue das demais em seu modo de vida, muita
determinação e lucidez, para desfazer, uma a uma, as pregas, dobras,
rugas e os vincos da moralidade tradicional traiçoeira, ardilosa, que
nos enredou nessa forma de vida que representa puro tormento para os
animais.