O fim das férias marca a necessidade de voltar à rotina e retomar uma agenda nem sempre esperada pelas crianças. Muito do que foi realizado durante as férias, como assistir aquele programa de televisão favorito sem hora para acabar e não ter lição de casa para fazer, deve ser deixado de lado em prol da reorganização da rotina. Para suavizar o baque, a psicóloga Daniela Caramori Morgan recomenda aos pais reajustarem progressivamente, dois ou três dias antes do retorno às aulas, o ritmo do organismo dos filhos. Ou seja, restabeleça aos poucos os horários para acordar, se alimentar, brincar e dormir.
Segundo Daniela, esse tipo de atitude é imprescindível para uma volta à rotina com maior facilidade. Rosana Nunes, coordenadora pedagógica do Colégio Hugo Sarmento, concorda. “Começar a arrumar o material escolar, rever os uniformes e ir deixando claro que não vai mais dar para assistir desenho até tarde da noite é importante. Assim, as crianças já podem ir se envolvendo com o novo ritmo e com a escola novamente”.
Na volta às aulas, as crianças estão ansiosas para contar aos amiguinhos o que fizeram durante um mês inteiro. “Elas costumam chegar bem eufóricas e agitadas, então é somente a partir do terceiro dia de aula que começam a retomar o ritmo normal”, afirma Rosana. Para minimizar a ansiedade, os pais podem promover encontros entre os colegas de classe dos filhos durante as férias. Foi o caso do produtor de cinema Antônio Carlos Accioly, de 49 anos, que mandou a filha Mariana, de três anos, para uma colônia de férias da própria escola. Ele também combinou outros encontros entre Mariana, a irmã dela Carolina, de cinco anos, e os coleguinhas de classe. A adaptação fica mais tranquila, já que as crianças não se distanciam tanto da realidade e podem contar aos amiguinhos sobre as férias fora da sala de aula.
Apego vs. Rotina
Os pais que estiveram durante todo o mês perto dos filhos, conciliando as férias do trabalho à da escola das crianças, devem controlar a própria ansiedade da separação. “Se os pais estiverem bem, as crianças também ficarão”, diz a psicóloga clínica Regina Célia Gorodscy, também professora da PUC-SP.
De acordo com a especialista, as crianças costumam se adaptar com facilidade e os pais devem levar isso em consideração. “Poder se separar com tranquilidade é fundamental”, diz. E se os pais souberem lidar com isso , os filhos vão acompanhar o movimento.
Se o seu filho tem menos de oito anos, o ideal é levá-lo à escola na primeira semana de retorno e, se possível, esperar um pouco até ele entrar na classe. “Depois de passar as férias inteiras com os filhos, acompanhar esse desligamento é importante”, diz a psicóloga Daniela Morgan. Deixar que a criança leve um bichinho de pelúcia para a escola também pode ser uma boa pedida, se houver permissão da professora: “É como se o brinquedo fosse um objeto transicional, que pode ser levado de dentro de casa para dentro da escola , ajudando a criança a se sentir segura novamente”.
O tempo de qualidade junto às crianças não termina com o fim das férias. Se seu filho ainda resiste ao retorno à rotina, deixe claro que nos finais de semana existirão momentos juntos outra vez.
Atenção aos limites
Se a criança se mostrar mais triste que o normal com o término das férias, vale fazer uma checagem da rotina. Pode haver alguma coisa muito errada, seja na escola, em uma agenda lotada demais ou com a babá. “Quando uma criança fica deprimida por estar voltando à escola, por exemplo, vale a pena pensar no que isso realmente significa”, diz a psicóloga clínica Regina. Ela pode estar sendo vítima de bullying , por exemplo, e não contou a ninguém: por isso a negação. É importante manter contato constante com a escola, uma aliada essencial para entender as possíveis mudanças de comportamento de seu filho.
Se não houve nenhum preparo para a retomada da rotina, é comum que as crianças fiquem mais lentas e irritadiças. “Isto realmente mexe com o funcionamento biológico, pois a criança foi dormir tarde e jogou mais videogame que o de costume durante as férias. Então é importante que os pais estabeleçam os limites novamente e sejam firmes”, finaliza Daniela.