Mas não é
só isso. Se não fosse pelo filé, o pessoal que hoje defende o direito
dos animais e prega o fim do consumo de carne nem saberia como
mobilizar. Nem eles nem ninguém. É que a caça foi um dos maiores
incentivos para que o homem aprendesse a se organizar socialmente.
Afinal, para caçar um búfalo era preciso reunir o pessoal, dividir
tarefas e estabelecer hierarquias.
Na verdade,
devemos até a agricultura ao consumo de carne. O homem começou a plantar
há cerca de 10 mil anos, o que o fixou em um local e acabou com a vida
nômade. Mas o pastoreio foi o primeiro passo para manter as pessoas em
um mesmo lugar. Já que não precisavam sair toda manhã para ir atrás da
caça, que estava no quintal, nossos ancestrais tinham mais tempo para
cuidar da terra.
E se a
adoção da salada ocorresse hoje? E se fosse mundial? O impacto imediato
seria na economia, pois o consumo de carne movimenta bilhões de dólares
por ano no mundo. No Brasil, segundo maior produtor de carne bovina no
mundo[1],
estados como Goiás, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, principais
pecuaristas do país, perderiam receitas. Teríamos perdas de mais de 2,4
bilhões de reais em exportações por ano[2]. Além
disso, haveria queda no emprego e na renda de muita gente. A criação é a
única fonte de receita para cerca de 20 milhões de pessoas no mundo,
segundo um relatório da Organização das Nações Unidas sobre o assunto.
Só para se ter uma idéia, o PIB da pecuária em vendas externas foi de
US$ 76,7 bilhões em 2010.
Mas
muito provavelmente o Brasil não seria muito prejudicado pela mudança.
Afinal, o mundo precisaria de grãos. E nós somos um dos maiores
produtores de grãos do mundo (só que, atualmente, boa parte dessa
produção é usada para alimentar rebanhos nos países ricos, acredite!).
“O Brasil é uma potência agrícola e poderia investir em produção de soja
para fazer carne vegetal. Haveria a transferência da renda para outras
fontes alimentares”, diz o agrônomo especialista em pecuária José
Vicente Ferraz.
O impacto
ambiental seria enorme. Atualmente, dois terços das áreas agrícolas são
destinadas à criação. Isso dá espantosos 30% da terra disponível no
mundo. Ou seja, sobraria espaço para plantar e a pressão sobre áreas
preservadas, como a Amazônia diminuiria bastante. Mas é provável que o
consumo de petróleo aumentasse, para fabricar fertilizantes, tecidos
sintéticos e transportar áreas sem potencial agrícola, gerando uma crise
energética.
O corpo
humano sofreria alterações? Difícil dizer. É fato que somos onívoros por
natureza, ou seja, nosso corpo digere vegetais e carne. Mas não dá para
saber, com certeza, se a dieta vegetariana limita ou expande o
crescimento, a saúde e a longevidade. Vegetarianos e defensores do bife
têm as próprias verdades e é difícil achar pontos consensuais. “O
vegetarianismo restringe o acesso a um grupo de nutrientes importantes
que estão concentrados na carne. O homem foi feito para comer carne”,
afirma o nútrólogo Mauro Fisberg.
O
fato é que, para abandonar a carne, precisaríamos saber mais sobre
nutrição, porque viver sem bife exige cuidados, sob o risco e de
ficarmos anêmicos.
AMAZÔNIA
A criação de
gado ocupa grande parte das melhores terras agrícolas brasileiras. Se o
gado desaparecesse, ia sobrar terra para plantar. As áreas preservadas,
como Amazônia, cerrado e Pantanal, ficariam em paz durante um bom
tempo, sem desmatamento e queimadas.
RIO GRANDE DA ESPANHA
Os
portugueses ocuparam o Sul do país criando gado para fornecer carne e
couro para o sudeste, onde havia mineração. Sem esse recurso,
provavelmente o Rio Grande do Sul teria ficado sem ocupação e seria
dominado pelos espanhóis
Há pouco
mais de 2 milhões de anos, os hominídeos que viviam na Terra aumentaram o
consumo de carne, uma fonte rica de energia. Foi essa potência extra
que tornou possível a sobrevivência de hominídeos com cérebro maior, que
consome mais calorias. Foi assim que nosso cérebro chegou ao tamanho
atual. Esse órgão consome 20% da energia que consumimos. Sem a carne,
ainda seríamos meio macacos.